B2B deve puxar crescimento do 5G
Melhores oportunidades de monetização estão no mercado corporativo. Estaria a TI preparada?
A grande chave para a monetização do 5G, pelo menos nesse primeiro momento, é o mercado B2B. Esse foi um dos principais consensos entre os painelistas da Futurecom, feira do mercado de telecomunicações que aconteceu em São Paulo na última semana.
A máxima foi reforçada com diversos casos apresentados no evento, como a instalação de antenas no Maracanã, a rede 5G privativa no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) e a implantação da tecnologia no armazém da Huawei.
Segundo Clayton Cruz, presidente de divisão da AmDocs, fornecedora de software e serviços para empresas de comunicação e mídia, o foco no B2B acontece porque monetizar no B2C ainda é um grande desafio.
A chegada ao consumidor final depende da penetração dos dispositivos compatíveis e da disposição do assinante a pagar mais pelo 5G.
“Sem os dois, é muito difícil monetizar. A grande sacada está no B2B, é onde a gente vai ter oportunidades mais imediatas de monetização, embora aí aconteça o desafio da escala. Nós estamos numa indústria de escala”, ressalta Cruz.
O executivo acrescenta que, para isso acontecer, o mercado precisa estar pronto com seus sistemas e não está. Para ele, o desafio do B2B é a falta de uma infraestrutura de sistemas no mesmo nível que uma plataforma de desenvolvimento 5G requer.
“Para que um 5G tão poderoso, se a TI não consegue acompanhar? Nós estamos fazendo rede de 5G, mas a nossa infraestrutura de TI e de sistemas é 3G ou 4G. Sistema fica sempre por último. As redes estão começando a ficar prontas e a pergunta é: como eu consigo levar novos serviços, novas maneiras de monetizar para o meu B2B?”, questiona Cruz.
O painelista citou questões como unificar o catálogo de serviços, orquestrar serviços fim a fim e dar a flexibilidade que os clientes demandam.
“Para isso acontecer, tem que ter uma mudança de paradigma, uma mudança de arquitetura. Muda muita coisa. Aquela ideia de TI que leva um ano, um ano e meio, dois anos para entregar não existe mais”, lembra Cruz.
De maneira geral, ainda falta claridade no mercado corporativo sobre possíveis aplicações do 5G. Foi o que mostrou a prévia de uma pesquisa que está sendo realizada pelo IDC, que já ouviu decisores em mais de 50 empresas no Brasil e 190 na América Latina.
No estudo, a companhia apresentou 20 casos de uso da tecnologia aos entrevistados e perguntou se eles consideravam cada uma deles relevante ou não para a sua organização.
No Brasil, a identificação majoritária ficou com desdobramentos mais óbvios, como conectividade de devices, com 88% apontando esse ponto como relevante, e conectividade de escritórios, com 80%.
“O 5g é uma maratona. Nós estamos dando os primeiros passos e ela vai culminar com o 6G daqui a 10 anos, possivelmente. O que nós temos que pensar agora enquanto país é como contribuir para o futuro do 6G. Se nós não começarmos a localizar as nossas necessidades para o 6G, nós não vamos ter essas necessidades cobertas daqui a 10 anos”, adianta Wilson Cardoso, CTO da Nokia Brasil.
A curto prazo, o CTO acredita que 2023 vai ser o ano das ondas milimétricas, que trazem a maior velocidade e, em 2025, possivelmente todas as promessas do metaverso vão se materializar.
“Aí preparem-se para garantir que cada pessoa seja conectada com 25 megabits de downlink, 25 megabits de uplink e 25 milissegundos de latência. Então lembrem-se dos três 25 para 2025. Se nós não tivermos redes que suportem isso, um modelo de negócios que suporte isso, não vamos encarar a nova evolução dos dispositivos daqui a três a quatro anos”, alerta Cardoso.
Outro consenso entre painelistas da Futurecom é que a implantação do 5G está andando mais rápido do que o esperado no Brasil. O leilão realizado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) foi finalizado em novembro de 2021 e, hoje, todas as capitais já contam com o novo padrão.
“Nesse primeiro momento, a exigência do edital era de uma estação rádio base (antena) a cada 100 mil habitantes e nós podemos observar mais do que o dobro, às vezes o triplo da solicitação para capitais. Está andando muito mais depressa do que nós esperávamos”, afirma Moisés Queiroz Moreira, presidente do GAISPI, grupo de acompanhamento do tema na Anatel.
Após essa primeira etapa, a implantação segue para a fase 2, na qual o perímetro foi ampliado para mais 400 municípios nas regiões metropolitanas das capitais e para as cidades com mais de 500 mil habitantes.
“Isso praticamente dobra a população que vai ser atingida para 102 milhões de habitantes, o que significa 48% da população brasileira. Hoje, nós já percebemos onde estão os principais gargalos e isso nos dá muita confiança para desenvolver a fase 2 e, depois, a fase 3”, destaca Leandro Guerra, CEO da Entidade Administradora da Faixa (EAF).
A terceira fase contempla os municípios com mais de 200 mil habitantes e 25% das cidades com mais de 100 mil habitantes. Com cerca de 1,1 mil novas localidades, a expectativa é levar o sinal a 67% da população brasileira até junho de 2023.
Carlos Alberto Luz Roseiro, diretor de soluções integradas da Huawei do Brasil, também considera o rollout rápido, citando que algumas operadoras já estão com 30%, 40%, 50% ou quase 60% dos sites com 5G.
“Outro ponto importante é com relação aos aparelhos. Antes do lançamento do 5G, a gente olhou o mercado para o varejo no geral e nenhum aparelho compatível custava menos que R$ 1,5 mil. Agora, já vemos mais de 20 modelos abaixo de R$ 1,5 mil. Isso vai ajudar muito na rápida adoção da tecnologia”, ressalta Roseiro.
Eduardo Tude, presidente da Teleco, estima que o número de celulares compatíveis com o 5G se igualará ao de aparelhos 4G só em 2025, apesar de estar andando mais rápido que a geração anterior.
“A gente gosta sempre de lembrar que o 5G é um processo gradual em que a cobertura vai sendo intensificada, assim como aconteceu com o 4G. Se nós pegarmos no mundo inteiro, a operadora em que o usuário consegue ficar mais tempo na rede 5G é 40%. Na grande maioria, ele fica 20%, 30%, então é preciso dosar as expectativas”, pondera Tude.
De acordo com Luciano Stutz, presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (Abrintel), a maioria dos municípios pequenos ainda espera serviços simples, como a teleconsulta e a aula on-line, o que pode ser resolvido com a expansão da conectividade 4G.
Já nas grandes cidades, a expectativa é que o 5G possa chegar para permitir serviços baseados em realidade aumentada e outras funcionalidades que só a baixa latência pode trazer.
Outra questão em que a implantação esbarra é a adaptação legislativa. Hoje, o Brasil tem 209 municípios, onde se concentra 34% da população, com leis já alinhadas à legislação federal.
“Precisamos mostrar que, no serviço do 5G, você não vai ter carros autônomos e drones em todas as cidades brasileiras até 2029. O 5G é uma plataforma de serviço sim, mas tem muita coisa antes disso”, pontua Stutz.
Segundo Alexandre Gomes, diretor de marketing da Embratel, o impacto projetado do 5G até 2035 está na casa de US$ 13,3 trilhões, com a geração de aproximadamente 22,3 milhões de empregos.
Fonte: https://www.baguete.com.br/noticias/24/10/2022/b2b-deve-puxar-crescimento-do-5g
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