IoT: 5G não vai mudar tanta coisa
A nova frequência não deve ditar as regras tão cedo quando o assunto é internet das coisas
No mercado de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), o 5G não deve ditar as regras tão cedo.
Esse, pelo menos, foi o consenso em um painel sobre o tema na Futurecom, grande feira do mercado de telecomunicações que encerrou em São Paulo nesta quinta-feira, 20.
O novo padrão de redes de telefonia móvel, centro da estratégia das grandes operadoras e destino de investimentos milionários, foi um dos grandes destaques.
Rafaela Werlang, líder de sales engineering da Ciena, multinacional norte-americana de equipamentos para redes, lembrou que o IoT já está presente no mercado há muitos anos, com 2G, 3G, 4G, Wi-Fi ou qualquer outro tipo de conectividade.
“O IoT vai continuar crescendo e se desenvolvendo de acordo com todas as tecnologias que vão aparecendo, mas ele não é dependente do 5G. Agora vamos ter a possibilidade de utilizar dispositivos que não funcionariam antes porque as redes existentes não tinham a latência necessária, então o 5G traz mais casos de uso”, explicou Werlang.
Segundo a executiva, é necessário pensar na conectividade certa para cada aplicação, levando em consideração vários outros fatores, como custo, banda, capacidade e latência.
“Vamos ter alterações desses dispositivos que vão fazer cada vez mais coisas e trazer cada vez mais informação, mas a gente não pode dizer que a maturidade do IoT chegou. O que vem depois da maturidade é um declínio e eu acho que a gente não vai alcançar nunca essa ‘maturidade’”, opinou Werlang.
Vitor Menezes, diretor de relações institucionais da Ligga Telecom, destacou que o Brasil tem cerca de 40 milhões de dispositivos machine to machine conectados em 2G e 3G, que funcionam muito bem, e isso vai perdurar por muitos anos porque quem vai demandar a necessidade é o cliente.
“Ele que vai dizer se precisa de uma latência melhor ou não. O IoT já alcançou a sua maioridade, a gente já tem uma tecnologia bem experiente, com uma série de aplicações, uso de várias faixas de frequências. Então o 5G não vai acabar com isso. Eu acredito muito na convivência dessas múltiplas faixas de frequência, cada uma para uma necessidade específica”, afirmou Menezes.
O diretor ressaltou que os dispositivos de 5G já têm capacidade de fazer a substituição completa das redes antigas, mas isso seria muito caro e não é necessário no curto prazo.
“Toda tecnologia nova tem uma alta expectativa de aplicação, depois ela desce um pouquinho, encontra maturidade e um nicho. Nós vimos isso com blockchain, inteligência artificial, então acredito que com o 5G para o IoT vai ser da mesma maneira. Hoje a gente ainda está pensando em descer a ladeira para encontrar o nicho de aplicação de mercado”, comparou Menezes.
Alexandre Dal Forno,diretor de desenvolvimento de mercado de IoT da TIM, concorda que os requisitos de cada caso de uso vão definir qual é a melhor tecnologia para atender à necessidade do cliente.
“Em mais de 99% dos casos de uso reais que eu tenho no agro, o 4G atende. Para uma aplicação que não precisa de grande throughput, grande disponibilidade, ele atende”, exemplificou Dal Forno.
Já para uma indústria, por exemplo, o executivo afirmou que ter o 5G pode ser muito vantajoso com redes privadas e híbridas.
“O 5G vai ser uma revolução, ele é um iceberg e a gente está vendo só a parte de cima. Tem um monte de casos de uso, de oportunidades que a gente não está enxergando ainda e vai enxergar com o tempo. Não vamos nos apaixonar pela tecnologia, vamos estudar, entender, aprender onde cada uma delas entra da melhor forma possível”, ponderou Dal Forno.
Eduardo Polidoro, diretor de IoT M2M da Claro, acrescentou que o 5G habilita casos de uso como o da Gerdau, onde há o controle autônomo de caminhões.
“Muitos casos de uso que vão ser destravados pelo LTE e por redes desenvolvidas para sensores. O caso de uso dita a tecnologia e não a tecnologia por modismo ou qualquer coisa assim”, resumiu Polidoro.
Para Janilson Junior, diretor de novos produtos da American Tower, o 5G traz o ápice da maturidade tecnológica e a missão de conectar o IoT de missão crítica, pois algumas aplicações têm requerimentos adicionais quando comparadas à conexão de um dispositivo massivo.
“O 5G é um canhão para acertar uma mosca quando a gente fala do IoT. Hoje, o que é mais importante do que a tecnologia é encontrar a dor real e promover esse processo de automação, que pode ser tão simples quanto a utilização de um bluetooth ou de um dispositivo que demanda pouca conectividade”, acrescentou Junior.
O executivo deu exemplos de soluções que podem agregar um valor significativo na cadeia produtiva, como sensores para a temperatura do leite ou dispositivos aplicados no gado.
“O IoT tem que ser pensado no negócio desde a sua concepção inicial, com requerimentos que envolvam a evolução disso considerando também os vários atores dentro desse processo, que envolve operadora, integradora da solução, compatibilidade com os demais sistemas que essa empresa tem e, principalmente, ter a segurança como requerimento de design”, resumiu Junior.
De maneira geral, ainda falta claridade no mercado corporativo sobre possíveis aplicações do 5G, sejam elas em IoT ou não. Foi o que mostrou a prévia de uma pesquisa que está sendo realizada pelo IDC, que já ouviu decisores em mais de 50 empresas no Brasil e 190 na América Latina.
No estudo, a companhia apresentou 20 casos de uso da tecnologia aos entrevistados e perguntou se eles consideravam cada uma deles relevante ou não para a sua organização.
No Brasil, a identificação majoritária ficou com desdobramentos mais óbvios da nova tecnologia, como conectividade de devices, com 88% apontando esse ponto como relevante, e conectividade de escritórios, com 80%.
Aplicações potencialmente bem mais disruptivas foram as menos reconhecidas. No fim da lista, estão veículos conectados (4%), monitoramento e gestão remota de pacientes (12%), gestão de frotas (18%) e trabalho aumentado com robôs industriais (20%).
Usos como monitoramento de produtos em tempo real (45%), redes privadas mobile (45%) e gestão remota de ativos (51%) ficaram em posições intermediárias.
Na associação ao tema SD-WAN, a maioria das empresas (65%) afirma que o 5G é um grande impulsionador deste tipo de implantação.
Quando questionados sobre a familiaridade com alguns termos tecnológicos relacionados ao espectro, os entrevistados também destacaram pontos ligados à conectividade, como latência, realidade virtual e realidade aumentada e Dynamic Spectrum Sharing (DSS).
Entre os termos mais desconhecidos, ficaram millimeter wave, Multi-access Edge Computing (MEC) e Software Defined Networks (SDN).
Em relação a possíveis parceiros ou vendedores para desenvolvimento e implantação da tecnologia nas organizações, a maioria apontou as operadoras de telefonia (41%), seguidas pelos integradores de sistemas (20%) e pelos provedores de internet regionais (12%).
Fonte: https://www.baguete.com.br/noticias/21/10/2022/iot-5g-nao-vai-mudar-tanta-coisa
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